Depois de 6 anos em recuperação judicial, os dois pavilhões industrias da fábrica de brinquedos Gulliver, localizados em São Caetano do Sul-SP, estão sendo leiloados para pagamento de credores. Os lances iniciais vão até do dia 18 de dezembro, com uma segunda fase iniciando caso não haja interessados. O valor inicial é de R$ 74,8 milhões para um terreno de mais de 7,2 mil metros quadrados e uma área construída de 11.551 metros quadrados.
Atualmente a empresa atua com 50 funcionários e uma linha de produtos com brinquedos vendidos em lojas especializadas, mas já foi responsável por brinquedos icônicos, como o famoso jogo de xadrez Mequinho que chegou a vender 150 mil itens no primeiro ano de produção. A empresa também foi responsável pela família de ursos que acompanhou milhares de crianças, os ursinhos Peposos, e os mascotes de pelúcia agarradinhos, que venderam milhões de unidades e bateram recordes no setor de brinquedos.
A marca que fez parte da infância de tantos brasileiros, foi fundada em 1970 pelos filhos do espanhol Mariano Lavin Ortiz, proprietário de uma fábrica de brinquedos em Madrid e sagrou-se no mercado com o forte apache, o acampamento apache, caravana, chaparral o batmóvel, bonecos de super-heróis como Batman, Homem Aranha e Capitão América. O nome da empresa é proveniente do romance de Jonathan Swift que narra as fascinantes viagens de Gulliver.
Na década de 1980, a Gulliver estabeleceu parcerias internacionais e começou a importar brinquedos. No entanto, a crise de 2008, com a desvalorização significativa do Real em relação ao dólar, impactou fortemente a empresa.
A recuperação judicial da empresa iniciou em meio à derrocada da produção nacional de brinquedos, com o fechamento de uma série de empresas do setor, como Atma, Troll, Glasslite e Balila, indústrias que começaram a enfrentar dificuldades quando a importação de concorrentes chineses deslanchou no país, altas taxas de juros praticadas pelo governo e a queda nas vendas de brinquedos justificada pela forma como as crianças passaram a se relacionar com seus brinquedos, nos últimos anos.
As crianças estão brincando cada vez menos, e os pais têm plena consciência dessa mudança no comportamento infantil. O brincar conectado revela-se uma tendência global. No Brasil, a maioria dos pais concorda que as crianças, frequentemente, não querem brincar sem tecnologia, ao mesmo tempo. Os tablets, os games e os celulares disputam com as bonecas e os carrinhos a preferência da molecada.
Os pais também modificaram seus hábitos de consumo de uma maneira global.
Um balanço elaborado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Música e Brinquedos apontou que até a metade do ano de 2023 mais de 20 pequenas empresas do setor fecharam as portas.