As endividadas companhias aéreas Azul e Gol anunciaram, por meio de um memorando, no último dia 15 de janeiro, um acordo não vinculante com o objetivo de explorar uma combinação de negócios para competir em um mercado desafiador e ampliar a conectividade no país, sem comprometer suas identidades operacionais, maximizando sinergias e ao mesmo tempo respeitando a cultura organizacional de cada uma.
A fusão em andamento entre as companhias aéreas representa um marco na aviação brasileira. Caso concretizada, a união consolidará cerca de 60% do mercado doméstico, criando a maior empresa do setor no Brasil e possibilitando o fim do endividamento das companhias aéreas que explodiu após a pandemia.
A assinatura do acordo entre a Azul e o grupo Abra, controlador da Gole da Avianca, reforça a tendência de consolidação no setor aéreo, com impacto direto na malha de voos e na experiência dos passageiros. A expectativa é que a união resulte em benefícios como a otimização da malha aérea, integração de frotas e maior poder de negociação junto a fornecedores. Além disso, as empresas visam melhorar a eficiência operacional e ampliar as opções para os consumidores, ao integrar rotas complementares e diversificar os destinos disponíveis.
Recentemente a Azul negociou com credores e adquiriu empréstimos para saldar as dívidas de curto prazo que giram em torno de R$ 6 bilhões, enquanto a a Gol pediu recuperação judicial nos Estados Unidos, com dívidas na casa dos R$ 20 bilhões.
A potencial fusão entre Azul e Gol não apenas mudará o panorama da aviação no Brasil, mas também trará desafios regulatórios significativos. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) será responsável por analisar os impactos da consolidação no mercado e propor medidas que garantam uma concorrência justa. Este processo é fundamental para evitar possíveis práticas monopolistas e garantir que a fusão não resulte em aumento de tarifas ou redução de serviços para os consumidores, mas a complementaridade das operações pode favorecer a aprovação do acordo. A Azul oferece ampla cobertura em cidades menores e a Gol exerce forte presença em grandes centros urbanos. Com perfis operacionais distintos, ao se unirem, devem beneficiar os consumidores por meio de uma oferta mais robusta.
Além de aprovações regulatórias, a conclusão do negócio depende da recuperação judicial (Chapter 11) da Gol nos Estados Unidos.
Em meio às negociações para a fusão, Azul e Gol também se beneficiaram de medidas de apoio do governo brasileiro, que anunciou, em janeiro de 2025, um acordo para a quitação de dívidas tributárias das companhias, totalizando R$ 7,5 bilhões. O governo concedeu descontos e ofereceu a possibilidade de parcelamento, aliviando o peso financeiro sobre as empresas e possibilitando maior estabilidade.
Também foi criada uma linha de crédito de R$ 4 bilhões, financiada pelo Fundo Nacional de Aviação Civil, para apoiar companhias aéreas em dificuldades. Essas iniciativas visam não apenas fortalecer as empresas, mas também garantir a continuidade e a qualidade do transporte aéreo no Brasil.
A melhoria de operação da maior fusão da aviação brasileira viria da otimização de frota e malha aérea, com cerca de 200 destinos combinados. Rotas como a ponte aérea Rio-São Paulo seriam otimizadas, usando aviões Embraer em horários de baixa demanda e realocando Boeings e Airbus A320s para rotas de maior volume. Segundo a Azul, tal estratégia poderia gerar economia de até 40% por voo. Além disso, as sinergias de malha aérea também permitirá melhor captura de créditos de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no combustível, dado o alcance de 160 destinos da Azul e 55 da Gol. O aumento da conectividade viabilizaria mais voos internacionais para EUA e Europa, especialmente das Regiões Centro-Oeste e Nordeste, ampliando competitividade.
A criação de uma empresa líder no mercado doméstico é um passo ambicioso, mas que pode trazer benefícios significativos para o setor e para o país como um todo. Enquanto isso, consumidores, investidores e autoridades continuarão acompanhando de perto o desenrolar das negociações.
O anúncio da possível fusão já teve impacto imediato no mercado financeiro, com as ações de ambas as empresas registrando alta significativa. Os investidores veem o acordo como uma oportunidade de gerar valor, ao capturar sinergias e fortalecer a posição competitiva das companhias no mercado. As ações da Azul fecharam em alta de 3,63% e as da Gol subiram 4,29%.