O Grupo Safras, conglomerado agroindustrial especializado em armazenamento e distribuição de grãos e produção de etanol, com sede no Mato Grosso, tem chamado a atenção do mercado com um processo de recuperação judicial, no mínimo, polêmico.
Depois de realizar altos investimentos em uma usina de etanol de milho sem o suporte de financiamentos adequados e comprar a Copagri (hoje Safras AgroIndústria) acumulando um alto passivo e a necessidade de integrar sistemas e equipes distintas, aumentando custos e tornando a gestão mais complexa, o Grupo Safras foi afetado diretamente pela oscilação e a queda acentuada do preço da soja no primeiro semestre de 2023, o que prejudicou a venda e o estoque do grãos, reduzindo o seu fluxo de caixa.
Tudo isso levou o grupo a entrar com pedido de recuperação judicial em abril de 2025. O processo foi deferido em primeira instância, mas suspenso no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) por irregularidades documentais, e essa decisão foi mantida pelo STJ. Além da suspensão da RJ, o grupo sofreu derrotas judiciais, incluindo a perda da fábrica de esmagamento de soja em Cuiabá, considerada estratégica e essencial para o grupo, que voltou à posse da Carbon Participações, uma de suas credoras.
E o imbróglio não para por aí. Uma operação que teve origem no contrato de opção de compra celebrado em agosto de 2024 entre os antigos controladores do conglomerado e os fundos Axioma e Alcateia, ligados à gestora Fidd Group, resultou na chegada do fundo AGRI Brazil Special Situations Fund ao controle do Grupo Safras. Esse contrato previa expressamente que os fundos detentores da opção poderiam indicar terceiros para exercer o direito de compra, sem necessidade de anuência adicional dos sócios originais. Em 7 de julho de 2025, os fundos Axioma e Alcateia decidiram exercer a opção e transferiram os direitos ao Agri, que efetivou a compra de 60% do capital social. Com isso, as famílias Rossato e Moraes, até então controladoras, tornaram-se sócias minoritárias.
O novo dono do Grupo Safras, o fundo AGRI Brazil Special Situations Fund, gerido pela Yards Capital e constituído pela AM Agro, protocolou um pedido na justiça para desistir da recuperação judicial. O fundo alega que o processo de recuperação dificulta novos investimentos e promete levantar até R$ 1 bilhão para reestruturar o conglomerado de forma independente.
O pedido de desistência da recuperação judicial é apresentado com base no argumento de que, com o processamento suspenso, não há exigência de submissão à assembleia-geral de credores, conforme prevê o artigo 52, §4º da Lei 11.101/2005 para casos em que o processamento foi deferido.
De acordo com o Agri, esses recursos são essenciais para reverter o cenário financeiro adverso e evitar a perda de ativos estratégicos que atualmente estão sob risco de constrição judicial, o que poderia inviabilizar as operações do grupo.
A petição também critica duramente a atuação dos antigos controladores, acusando-os de litigar de má-fé e de criar entraves que prejudicam não apenas o Grupo Safras, mas também a coletividade de credores, incluindo trabalhadores e produtores rurais que aguardam o pagamento de seus créditos. Para o fundo, insistir na recuperação judicial, nas condições atuais, apenas prolonga a crise e impede uma solução mais ágil e eficaz.
O passivo do Grupo Safras foi estimado em cerca de R$ 1,7 bilhão a R$ 2,2 bilhões.
Na petição apresentada, o Agri também ressalta que o foro competente para deliberar sobre o contrato de opção é o da Comarca de São Paulo, conforme cláusula expressa, e não o juízo da recuperação judicial de Sinop. O fundo sustenta que o instrumento tem natureza patrimonial privada e que a transação não envolveu atos de constrição sobre bens, motivo pelo qual não caberia ao juízo recuperacional deliberar sobre o caso. Ainda segundo o Agri, todos os requisitos contratuais para o exercício da opção de compra foram cumpridos, incluindo o pagamento do preço pactuado, o que torna a operação válida, eficaz e aperfeiçoada juridicamente.
Caso a Justiça aceite o pedido, o Grupo Safras deixará o regime da recuperação judicial e passará a conduzir, sob o comando do Agri, negociações diretas com seus credores, sem a mediação prevista pela Lei de Recuperação e Falências. Enquanto isso, a disputa judicial envolvendo os sócios minoritários e a validade da transferência de controle segue em curso, o que mantém o clima de incerteza sobre os próximos passos na reestruturação de um dos maiores grupos do agronegócio mato-grossense.
O Grupo Safras é um conglomerado agroindustrial com sede em Mato Grosso, Brasil, especializado em armazenamento e distribuição de grãos e produção de etanol. Fundado por Dilceu Rossato e Pedro Moraes, o grupo é conhecido pela sua rede de armazéns para recebimento e padronização de grãos como soja, milho e arroz. Opera atividades de origem e processamento de grãos dentro da cadeia agroindustrial.