A expressão turnaround é associada a grandes transformações inevitáveis em empresas com graves problemas financeiros com o objetivo de se reerguer. Trata-se do chamado turnaround reativo, em que a empresa não tem escolha e a mudança drástica é decisiva para a sobrevivência do negócio.
Atualmente esse termo adquiriu conotações mais amplas e este recurso pode ser necessário em diferentes situações.
Empresas que observam sinais de problemas com queda de desempenho, falta de qualidade, obsolescência dos produtos, logística ineficiente, clientes insatisfeitos, entre outras situações preocupantes, podem recorrer ao turnaround corretivo evitando que a situação fique muito mais grave.
Já, empresas saudáveis e com bom desempenho, fazem turnarounds para se reinventar. É o que chamamos de turnaround proativo, por meio do qual companhias mudam radicalmente seus modelos de negócio, processos, produtos e formas de gestão para se tornarem ainda melhores do que já são, conquistando novos e mais elevados patamares.
Os momentos e as formas de realizar esses três tipos de turnarounds dependem das lideranças das organizações e é a gestão que determinará o fracasso ou o sucesso das três formas de mudanças. E os conceitos lean são aplicáveis para realizar todas elas.
Nissan recorre a estratégia de turnaround para se manter no mercado
Depois do fracasso da fusão com a Honda, a Nissan anunciou a estratégia para evitar a falência. O turnaround da empresa inclui desde o fechamento de fábricas até o corte de cargos executivos.
O anúncio vem para aliviar as preocupações dos stakenholders, depois do último relatório financeiro global da Nissan registrar, entre março e dezembro de 2024, queda de 87% no lucro operacional, fechando o ano fiscal com prejuízo de aproximadamente R$ 7,2 bilhões.
Em fevereiro, ela compartilhou detalhes adicionais sobre essas ações, delineando metas para o ano fiscal de 2026 e principais iniciativas. A marca se comprometeu a realizar 9 mil demissões ao redor do mundo, diminuindo a produção em 20%. Na Argentina já há cortes, e o Brasil, que receberá R$ 2,6 bilhões de investimentos, assiste sem muito poder de influenciar o desfecho da história - mas com razões para otimismo.
A Nissan fechará três fábricas como parte de sua estratégia de recuperação, sendo a primeira a fábrica da empresa na Tailândia, programada para fechar no primeiro trimestre do novo ano fiscal que começa em 1º de abril. As fábricas de montagem da empresa em Smyrna, Tennessee e Canton verão reduções de turnos.
Os cortes nas instalações devem reduzir 1 milhão de unidades da capacidade de produção de 5 milhões da Nissan nos próximos dois anos, aumentando a taxa de utilização da fábrica da Nissan para 85% (acima de 70%), com base nos cálculos da Automotive News.
A Nissan está implementando medidas imediatas para melhorar seu desempenho e criar um negócio mais enxuto e resiliente, capaz de se adaptar rapidamente às mudanças do mercado.
Turnaround proativo com transformação digital e IA como aliadas
Mesmo com uma saúde financeira invejável – com R$ 2,2 bilhões em caixa e classificação AAA pela Fitch Ratings – a M. Dias Branco, uma das maiores indústrias de massas e alimentos do Brasil, encerrou a planta que produzia o biscoito Piraquê em São Paulo, com o objetivo de otimizar a logística, reduzir custos e aumentar a eficiência operacional.
A produção foi realocada para outras plantas em São Paulo, Salvador e Bento Gonçalves, garantindo a continuidade do produto sem impacto no mercado. A companhia negociou com o Sindicato e foi aprovada a disponibilização de um pacote de benefícios adicional às verbas rescisórias trabalhistas, incluindo disponibilização de capacitação para contribuir na recolocação profissional.
Com sede em Eusébio (CE), o conglomerado conta com 22 indústrias no país, sendo 13 fábricas de massas, biscoitos e outros alimentos; sete moinhos de trigo e duas fábricas de cremes e gorduras vegetais, além de 29 filiais comerciais.
A proprietária das marcas Vitarella, Piraquê, Adria, Fortaleza, Richester, Isabela, Frontera, Fit Food e Jasmine Alimentos emprega 17 mil funcionários e neste processo de otimização iniciado há mais de um ano, já encerrou cerca de 1,8 mil postos de trabalho para apostar em IA e modernização e aposta no crescimento.
Em parceria com a ST-One, a empresa já digitalizou 10 bilhões de dados e criou sua própria IA, a Manu, em homenagem ao fundador Manuel Dias Branco.
A parceria focou no desenvolvimento de modelos preditivos em machine learning que permitem à equipe de operações intervir antes que ocorram falhas, como a quebra do vácuo na produção de margarina.
Os avanços obtidos com essas tecnologias permitiram mais automação, controle preciso e sustentabilidade.